As dedicatórias aqui
Para a história do CARTAZ em Portugal uma «estória» por protagonistas
«Mesmo para quem já coleccionou muitos milhares, um cartaz nunca é demais
Faltava pouco mais de uma semana para o dia 5 de Novembro de 2009, data em que o I Congresso Internacional de Animação Sociocultural na Terceira Idade ia homenagear o Madeira Luíz, na cidade de Chaves.
Foi então que os organizadores do Congresso e da Homenagem, os também animadores socioculturais, doutor Marcelino Sousa Lopes e Dr. José Dantas Ferreira, telefonaram para que colhesse, junto de amigos, sugestões de prenda para assinalar a ocasião.
Ainda na região de Lisboa, perguntei, por aqui e por acolá, a ver se surgia algum alvitre. Ninguém avançou algo de significativamente relevante.
Foi já em cima da data, e em desespero de imaginação, que lhes lancei a réplica de pedirem a todos os inscritos no Congresso para trazerem, das suas instituições e de entre as múltiplas actividades socioculturais a que estão ligados, um cartaz para oferecer ao homenageado, pessoa de que quase todos tinham ouvido falar, mas que poucos conheciam pessoalmente.
A intenção seria ofertarem algo que tivesse a ver com uma escolha pessoal e que, ao mesmo tempo, assumisse o carácter simbólico do mundo da animação e adjacências e que destacasse uma das dimensões mais intemporais da intervenção cultural do Madeira.
Deste modo, valorizava-se o esforço de alguém que dedicou boa parte da sua vida a recolher mais de 250 mil cartazes e a deixá-los disponíveis, para consulta e estudo, em mais de uma dúzia de instituições públicas espalhadas de Norte a Sul do País.
Cada cartaz representaria o reconhecimento pelo esforço laborioso de procurar, reunir, proceder ao tratamento sistemático e assegurar as condições de público acesso a esse manancial de informação, enquanto suporte de memória colectiva.
Embora acolhida de imediato, a iniciativa apanhou muitos dos participantes já em cima da hora de partida e, por isso, sem alternativa de escolha. Aconteceu até que um bom punhado de inscritos só à chegada ao Congresso é que dela tomou conhecimento.
Mesmo assim, o gesto de ofertar simples cartazes ao “animador” que, ao longo da vida, lhes dedicou muito do seu engenho e persistência, salvando-os de uma morte anódina, constituiu um momento relevante, até porque juntou uma amostra diversificada das actividades culturais, a que, no presente, os animadores se encontram ligados directa ou indirectamente.
Acresce que permitiu, ainda, algum exercício de criatividade, apanágio da animação, além de introduzir uma perspectiva pedagógica imprevista.
Foi o caso de um grupo de participantes vindos de Avis que, só à chegada, na recepção, souberam da proposta, quando lhes perguntaram onde estava o cartaz. Explicaram que não lhes chegara qualquer informação, certamente que o aviso já não os tinha apanhado em casa, e, se porventura viera por e-mail, há uma semana que não lhe acediam. Mas logo foram dizendo que haveriam de se desenrascar.
Nessa mesma noite, entre conversa fiada, debate e copo, descobriram, num bar da cidade, profusa e apelativa publicidade ao CINZANO/MARTINI. Não demoraram nada a convencer o proprietário a ceder-lhes uma colecção daqueles cartazes. Por uma vez, o dito aperitivo de puxa conversa, e porque não tertúlia de ocasião, ganhou foros de acto cultural.
Foi também o que aconteceu com o animador Marcelino Lopes. Chegado o momento de sair de casa, com o tempo a correr para a hora de abertura do Congresso, não havia modo de encontrar o cartaz escolhido. Não esteve para perder tempo. Foi à parede da sala de estar e retirou de lá encaixilhado um cartaz antigo representativo das primeiras actividades culturais em que se empenhara, há mais de três décadas, em terras de transmontanas.
Com um casal aconteceu que os cartazes que tinham pensado levar, ficaram esquecidos na região de Lisboa. Já a caminho de Chaves, por alturas de Tondela, lembraram-se de bater à porta da ACERT - Trigo Limpo. Conseguiram levar uma pequena colecção de mais de duas dezenas, alguns deles da fase inicial do grupo fundado por José Rui e que hoje tem no Pompeu o continuador daquele projecto de excelência. Também foram à Câmara e ao Turismo e mais uns tantos seguiram viagem.
O próprio Professor Américo Nunes Peres, que, em nome do Congresso e em representação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, presidiu à Cerimónia de Homenagem, teve o cuidado de trazer de casa um cartaz que guardara durante décadas, e que simbolizava o seu envolvimento em fase precursora da animação cultural e educativa.
Mas, a surpresa chegou com uma acção simbólica inesperada, ocorrida à vista de todos durante as sessões do Congresso, o qual decorreu, ao longo dos três dias, no Auditório da Câmara Municipal, à cunha, com uma presença maioritariamente jovem, sempre atenta, pontual e interventiva.
Na verdade, aconteceu que, à chegada, no acto de cada participante confirmar a presença, recolher pasta com a documentação do Congresso e pedir esclarecimentos sobre actividades extras, incluindo a inscrição para o jantar de Homenagem, lá foi perguntando onde poderia deixar o cartaz que trouxera, como quem se despacha de uma incumbência.
Ao fim da manhã, num lugar improvisado, quase que a magote, lá se foram juntando os muitos rolinhos de cartazes.
Alertado, o Madeira Luíz procurou modo de inventar lugar condigno, cuidando que ficassem resguardados, até uma ocasião em que lhes prestaria um primeiro devoto olhar. Ele e muitos outros curiosos.
Com efeito, não foi preciso esperar muito tempo para, no palco do Congresso, por obra e graça da organização, aparecer um destes porta desenhos enorme, usados em arquitectura, design e belas artes, e, de lado, um monte de rolinhos e envelopes de vários tamanhos, com sinais visíveis das diferentes amolgadelas dos quilómetros e peripécias da viagem.
Fora o Madeira Luíz, ele mesmo, que se apropriara da incumbência. Agora um, logo outros, fora-os trazendo para um espaço frontal do palco, quase resvés com a primeira fiada de participantes.
Depois, agarrou uma cadeira trazida para os que estavam de pé ou sentados nos degraus, sentou-se de esguelha para a mesa que presidia às sessões, e, sem deixar de espreitar a atenção dos participantes, estendeu para aquele amontoado dois braços como quem recebe um amigo.
Cuidadosamente, foi abrindo o primeiro, enrolando de novo, mas agora às avessas, para afagar o jeito ganho, por diversas vezes, até o deixar bem liso, com a ajuda das mãos espalmadas, depois com a polpa dos polegares, até àquele deslizar da unha maior para o desvincar definitivo.
Os fios e fitas eram guardados paralelos, depois de desatados os nós, pois, nunca se sabe, sempre fazem jeito.
Terminada a tarefa relativa a um dos cartazes, mecanicamente os dedos começavam a abrir o seguinte, até terminar em mais um cartaz liso e escorreito a pedir companhia aos demais.
Então, durante um compasso de espera, os olhos observavam os montinhos agrupados por tamanhos, e, como uma premonição, lá lhe encontrava o poiso provisório até à chegada ao destino prometido no centro documental e museológico da universidade de Aveiro. Para este centro não só foi inspirador e paladino, como tem contribuído com o seu próprio espólio, incluindo as suas colecções de cerâmica e vidro, sem esquecer a variada recolha documental acumulada de várias décadas e diferentes ofícios, militâncias e afectos. A memória também se faz de manifestos, programas, estatutos, actas e tanta coisa mais.
Pode acontecer que a lição tenha tido mais impacto do que eficácia. Mas não resta dúvida de que a mensagem visual ficará para sempre. Um gesto profético, que cada um pode traduzir no acto de organizar um arquivo, na preservação dos documentos respeitantes a um projecto, no registo escorreito das actividades desenvolvidas, juntando-lhes as peças que identifiquem quem participou e qual o impacto, lembrando que o processo comunicacional se alimenta do relatório e contas, mas também das imagens que ficam para a posteridade e valem duas mãos cheias de palavras.
Aparentemente, eram apenas mais umas centenas de cartazes para quem passou a vida a procurá-los nos sótãos das associações, cooperativas, centros culturais, grupos de teatro, cinemas, galerias, sindicatos e instituições públicas e particulares, em prateleiras desengonçadas, no vão de escadas, na última gaveta de secretárias carunchosas, ou até no caixote do lixo que alguém esqueceu quando a “sociedade recreativa e cultural” fechou para não voltar a ser reactivada.
Mas a verdade é que aqueles cartazes, como tantos que se amarrotam e rasgam todos os dias em lixeiras, transportam a memória potencial de quem acreditou, resistiu, foi à luta, deu a conhecer, ou, parafraseando a mnemónica latina, passou o aviso do quê, quem, onde, com que meios, quando, como, porquê e para quê. Usando muros, placards, paredes, o correio, o amigo, o cúmplice, o grupo levou mais longe e mais além o acto sociocultural, ou cultural-político, de estar vivo e de o anunciar.
Mesmo para quem já sentiu a tinta, a textura, as cores, a mensagem, o design e a inventiva dos formatos de centenas de milhar, um cartaz nunca é demais.
Queluz, 5 de Março de 2010.
Esaú Dinis, com a colaboração de Helena Mendes»
Em dia de rescaldo do DIA MUNDIAL DO TEATRO:
- Passei o meu em Évora com amigos a homenagearmos MÁRIO BARRADAS, e foi bonito ouvir o que se ouviu, e houve um momento especial quando a neta ESTRELA disse que como ele era tão «GRANDE» os netos pensavam que era imortal. Essa sensação estou em crer era partilhada por muitos que conviveram com o Mário.
- Pela comunicação social soube-se que houve condecorações oficiais a pessoas do Teatro, e eu continuo a pensar nas que podiam ter estado lá, embora das que foram distinguidas façam parte das que eu mais admiro.
- E ao ler os jornais de hoje é claro que a mensagem «É preciso instituir o teatro obrigatório» me alegra porque sou uma militante do SERVIÇO PÚBLICO no Teatro que comecei a perceber em 1975 precisamente com o Mário Barradas.
- E não pude deixar de reparar nesta passagem de uma notícia,
«O sol está já a pôr-se quando chega a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ainda a tempo de elogiar a iniciativa: "Tudo o que aproxime o teatro das pessoas é importante." Canavilhas tem andado ocupada a ver tudo o que pode - do Édipo do Nacional ao o Rei Vai Nu, pelo pequeno Teatro Extremo, de Almada, só para citar os últimos espectáculos a que assistiu. "Para agir tenho que conhecer", disse. E só quando achar que já conhece bem o sector tomará decisões - por exemplo sobre as polémicas regras de atribuição dos subsídios. Até lá, deixa a mensagem aos profissionais: devem "manter a confiança, a dedicação e o amor pelo teatro».
Que tempo estará aqui em causa?
- Tive pena de não ter podido ir às Caldas da Rainha para ver o espectáculo anunciado na imagem acima.
Espero que haja muita gente a saber que estão em Apreciação Pública os seguintes Projectos de Lei:
- Um que «Estabelece o Regime Laboral e de Certificação e Qualificação dos Profisisonais das Artes do Espectáculo e do Audiovisual» (Bloco de Esquerda);
- Outro que «Procede à primeira alteração à Lei n.º 4/2008. de 7 de Fevereiro, que aprova o regime dos contratos de trabalho dos profissionais de espectáculo, e estabelece o regime de segurança social aplicável a estes profisionais» (Partido Socialista).
Por outro lado, na legislatura anterior houve:
- Um projecto de diploma que «Estabelece o regime de segurança social dos trabalhadores das artes do espectáculo» (Partido Comunista).
A Lei 4/2008 pode ser vista aqui.
Primeira grande conclusão: do meu ponto de vista, o assunto está na agenda dos Deputados e isso é bom. De facto esta é uma matéria importante para o sector. Mas para além dos projectos de Leis seria vantajoso ter acesso aos estudos em que se fundamentam. Porque assim, «a seco», aquilo é de difícil compreensão. De repente apetece dizer que mais facilmente se compreende como foi elaborado, o que se queria, o que não se conseguiu, para o sistema de Saúde da USA do que com estas iniciativas.
Desde logo: aquelas propostas tem aderência à realidade? estão em harmonia com outra legislação ou práticas em vigor? Conheço agentes culturais que estão «aterrados». Dizem que vão fechar.
Ora, é evidente que será o oposto que os autores das iniciativas ambicionam, por conseguinte, alguma coisa deve estar errada.
Cá por mim, não vou criar grandes expectativas quanto ao resultado final, mas dado o estádio de organização e desenvolvimento em que o sector se encontra, penso, contudo, que era de aproveitar a ocasião para se dar continuidade a debates que houve no passado, e para se ensaiarem publicamente Políticas alternativas de fácil compreensão por parte dos directamente interessados mas também pela população em geral. Para depois se elaborar nova legislação ou alterar a existente com alicerces. A que se aderisse, e não se viessem a constituir,como tanta outra, em «letra morta». Legislação com visão, intuição, e técnica, e exequível a curto prazo. Lá que é urgente, é! Mas quando o legislado não tem a qualidade necessária em vez de se apressarem os resultados atrasam-se e por vezes por muitos anos. Todos sabemos disso, mas não parece. E os senhores Deputados, ou alguém por eles, podiam explicar-nos as suas propostas em linguagem que todos entendessem, podiam fazer como Obama (está visto, quando quero gostar não há volta a dar-lhe) que fez sessões de esclarecimento, autênticos workshops, com a questão do sistema de Saúde. Bem sei que o efeito Obama não me larga, mas para mim um político só pode ser assim, que hei-de eu fazer! Por mais que não queira volto sempre aqui.
Eu gostava de perceber pontos muito específicos que constam dos projectos de lei e cruzá-los com outras matérias de igual calibre, eventualmente a precisarem também de ser objecto de projectos de lei, por exemplo:
- Desde logo, a diversidade dos profissionais que se querem abranger;
- Depois, como muito do que é proposto depende de outra legislação, pode tudo voltar a ficar para as calendas. Não seremos nós conduzidos a este raciocínio quando está proposto por exemplo que «O Estado apenas atribui quaisquer montantes ou apoios financeiros ou outros, directos ou indirectos, a entidades que façam prova que 85% dos contratos celebrados com profissionais do SAACE são contratos de trabalho, nos termos a definir por diploma próprio»? Mesmo que se dê um prazo, se olharmos para o passado ... .
- Seria interessante testar o que é proposto simulando a sua aplicação, por exemplo, às entidades apoiadas pelo Ministério da Cultura, bem como às Unidades de Produção - Teatros Nacionais e equivalentes - sob a sua tutela. A minha curiosidade é enorme, e tentei vislumbrar o desfecho, e não me entusiasma;
- Como seria vantajoso cruzar estas propostas com os sistemas de Apoios existentes. A legislação em análise pressupõe alguma estabilidade e solidez dos agentes culturais (pois é, a distância entre o nosso País e outros, nomeadamente da UE, é abismal). Sabemos que os que actuam na esfera do «serviço público» são frágeis. E aqui parece-me que esta distinção entre «o mundo dos negócios no âmbito da cultura e das artes» e aquele que opera para garantir o serviço público deveria estar reflectida nas propostas de legislação aqui em análise. Será que se justifica alguma alteração ao sistema de apoios?
- Em particular, poderia aproveitar-se a ocasião para se dimensionarem os montantes a canalizar para o sector por parte do Estado, e saber-se, por exemplo, o quanto custará fazer itinerâncias tão reclamadas; o realizar espectáculos para além da meia-noite;
- E gostaria mesmo de ser informada sobre aquela pecisão de números, por exemplo, numas propostas 450 dias, noutras 36o dias, ...
- etc.
De facto, penso que os contributos em quantidade e qualidade que se pretendem com a Apreciação Pública seriam estimulados se os senhores deputados nos esclarecessem, a um tempo, em termos estratégicos e de curto prazo sobre o que está em apreciação. Assim, se calhar, acaba-se apenas por cumprir um formalismo. De qualquer forma, esperemos que não. Quem sabe não vamos ser surpreendidos. Oxalá!
Eu sou uma Obamaniaca e por isso estou muito contente pelo facto da Reforma da Saúde ter passado nos EUA. Mas é claro que a minha satisfação está para lá de mim, sou dos que acham que é um grande momento dos nossos tempos. E na altura de divulgar o feito Obama foi,uma vez mais, certeiro. Também sei que gosto de discursos, e quando têm correspondência na prática é das coisas que mais prazer me dá olhar e ver.
Fizeram chegar-me a crónica que reproduzimos de seguida. Mais palavras para quê?
«Irena Sendler
Uma senhora de 98 anos chamada Irena faleceu há pouco tempo.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações.
Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazis relativamente aos judeus (sendo alemã!) Irena trazia meninos escondidos no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira, na parte de trás da sua camioneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da camioneta, um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto.
Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.
Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.
Por fim os nazis apanharam-na e partiram-lhe ambas as pernas e os braços e prenderam-na brutalmente.
Irena mantinha um registo com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, que guardava num frasco de vidro enterrado debaixo de uma arvore no seu jardim.
Depois de terminada a guerra tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir a familia. A maioria tinha sido levada para a câmaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adoptivos.
No ano passado foi proposta para receber o Prémio Nobel da Paz... mas não foi seleccionada. quem o recebeu foi Al Gore por uns diapositivos sobre o Aquecimento Global
Não permitamos que alguma vez, esta Senhora seja esquecida!!»
A bem do que cada um pensa: acho importante o trabalho que Al Gore tem feito sobre o Aquecimento Global.
Nos últimos meses de 2009 neste blogue demos conta do I Congresso Internacional «A Animação Sociocultural na Terceira Idade» que se realizou em Novembro de 2009 na cidade de Chaves, onde o Madeira Luiis foi homenageado. Acaba de sair a obra colectiva de que acima se reproduz a capa que reune as principais comunicações do Congresso. A edição é da Intervenção - Associação para a Promoção e Divulgação Cultural.
Exposição de Jorge dos Reis inaugurada hoje, sábado, 2010-03-13
Na quinta-feira, dia 11 de Março (que data!), noite de futebol, fui a Almada ver a Comédia Mosqueta. Em boa companhia: com o Marcelo e o Paulo. A encenação é do Mário Barradas (o seu último trabalho de encenação finalizado). E houve momentos muito estranhos porque o Mário entretanto faleceu mas falávamos dele como se daí a pouco o fossemos encontrar e trocar ideias e risadas como era habitual. Adiante, e claro que uma vez mais se recordou a primeira encenação que ele fez em em 1973 desta peça. O Mário Jacques no seu testemunho em MÁRIO BARRADAS um homem no teatro que pode ver aqui, escreve :
«A opinião do público e da crítica poucas vezes terá sido tão unãnime. No balanço do fim do ano, o crítico do Expresso diria mesmo: "Se penso 73 e penso teatro, penso Comédia Moscheta"».
Mas eu não sou crítica de teatro, sou uma espectadora que adora teatro. E nessa qualidade, do actual espectáculo gostei particularmente da «leveza» da solução cénica ( que por acaso tem muito a ver com o meu imaginário de palco), e não deixei de pensar que os problemas sociais sublinhados tantos anos depois continuam aí, os dos costumes talvez com outras roupagens. Mas olho para as artes também duma perspectiva profissional assente naturalmente na minha formação. E foi por estas vias que na quinta-feira não pude deixar de me lembrar das CIDADES CRIATIVAS, eventualmente por nos últimos dias, e aqui mesmo neste blogue, muito se ter falado de indústrias criativas e aquele conceito, em regra, está-lhe agarrado não deixando de ser sintomático não virem para os cabeçalhos das notícias.
Em defesa da minha tese, ou seja, que o serviço público consolidado em cultura e artes tem impacto natural nas indústrias criativas nomeadadmente através das cidades criativas:
- Tudo começou quando disse que eu só vou a Almada para ir ao Teatro ou à Casa da Cerca que não me lembrava de outra razão. Mas pensando melhor e se considerar o concelho, minto: há muitos anos ia de propósito a Cacilhas comprar tremoços. Adorava meter-me no Cacilheiro, comprar os ditos e voltar - uma epopeia. Depois, prática que continuo, ir a um daquels restaurantes no paredão e, mais do que comer, ver Lisboa a partir de lá. E agora temos o Armazém das colecções do Madeira Luis, mas a experiência não foi feliz quando quis reunir tudo, apanhei um daqueles ataques alérgicos no princípio do Verão passado que o meu programa Casa da Cerca - Armazém Madeira Luis - Jantar - Teatro de Almada - ficou pelo meio do jantar. É lá tive que regressar sozinha a casa antes do tempo, sem teatro. Mas o Madeira está a tratar da coisa, melhor, a Gina, ou seja, a livrarem aquele espaço dos ácaros e família.
E houve o Festival dos Capuchos, e perto há a Migalha e a Casa da Teresa, onde é sempre agradável ir, e, no meu caso, especialmente num daqueles dias tórridos de Verão.
E, claro, a praia na Costa: como eu gosto daquelas praias. Mas isto é um caso à parte. Verdadeiro luxo.
- Na quinta-feira no Teatro de Almada com muita facilidade se reparava na sala cheia; no facto de não se estar perante espectadores de ocasião; no ensaio de outra peça que estava a decorrer; na montagem da exposição que se ia inaugurar no sábado; nos café e restaurante a funcionar; ...
Os meus amigos que moram em Almada gostam de viver lá e têm orgulho nestas coisas. E estas coisas têm a ver com as Cidades Criativas.
«Richard Florida defende que o sucesso das cidades e da economia urbana vai depender da sua capacidade para atrair a nova Classe Criativa, possuidora de elevada mobilidade. A capacidade de atracção de talento de uma cidade deriva da sua diversidade cultural, afabilidade do local, tolerância para as pessoas não convencionais, entre outros factores. O talento criativo e o empreendedorismo surgem nas cidades e são fomentadas pelas estruturas sociais e culturais da área. Actualmente são reconhecidas as ligações e relação entre capital criativo, qualidade de vida e competitividade, eeste reconhecimento teve como resultado considerar as Indústrias Criativas um factor económico sério que deve ser ponderado na questão da viabilidade das cidades».
(in Documento de Trabalho n.º 8 da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico)
Sobre as cidades também é útil ter presente a Política de Cidades Polis XXI 2007 - 2013
Mas depois disto tudo também apetece recordar Almada Negreiros:
Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas
Só faltava uma coisa - salvar a humanidade
E a noite de Quinta-feira teria sido perfeita se o Benfica tivesse ganho, mas empatou. Não se pode ter tudo.
A Biblioteca do Mosteiro de São Bento da Bahia lançou um do site contendo 20 obras que fazem parte do precioso acervo da Biblioteca do do Mosteiro. Datadas dos séculos XVI a XIX, todas as obras foram restauradas, digitalizadas e disponibilizadas na íntegra e de forma gratuita na internet, numa iniciativa inédita no Estado.
Entre as 20 raridades restauradas, que agora serão disponibilizadas para leitores do mundo inteiro, estão seis volumes dos “Sermões” do Padre António Vieira, publicados no final do século XVII e início do século XVIII. São edições princeps, ou seja, primeiras edições revistas pelo próprio autor, neste caso a principal referência da língua portuguesa no Brasil.
Outras obras únicas são “Seleção de Questões Disputadas sobre a Metafísica e os Ensinamentos de Aristóteles” (1685) e “Theatro Crítico de Freijó” (1876), dedicado ao “sereníssimo señor Infante de España Dom Carlos de Bourbon e Farnefio”, e a “Colleção dos Breves Pontifícios”, e Leys Regias, expedidos e publicados desde 1714.»
Para saber mais aqui
Assisti na segunda-feira, dia 1 de Março, à apresentação pública do estudo O SECTOR CULTURAL E CRIATIVO EM PORTUGAL de que pode ver o Sumário Executivo aqui. E o documento integral pode ser procurado no GPEARI entidade que encomendou o trabalho. Neste estudo como noutros que visam este amplo sector, que não se sabe muito bem onde começa e acaba, há uma questão que me preocupa deveras relacionada com o SERVIÇO PÚBLICO que ao Estado compete garantir e que fica diluído naquele grande «caldeirão» mesmo quando não é esquecido. Sublinhe-se que neste estudo está escrito como uma das quatro grande componentes desse sector:
«O "sector cultural" em sentido restrito, como espaço de afirmação de bens e serviços públicos e semi-públicos onde os "stakeholderas" determinantes são os cidadãos portadores de direitos democrárticos de acesso à cultura».
Ora, de há uns anos a esta parte esse serviço público constituia-se como a razão de ser central dos organismos que integram o Ministério da Cultura sendo mesmo o seu elemento organizador. Nas reacções a estes estudos, em regra, esquece-se isto onde há muito para fazer e começa-se a falar nas outras dimensões que, salvo melhor opinião, embora não devam ser ignoradas pelo Ministério da Cultura, antes pelo contrário, terão outros Ministérios que saberão melhor tratar delas. E talvez o contributo que o MC tenha de assegurar no conjunto de todas as componentes seja tratar como deve ser o SERVIÇO PÚBLICO NA CULUTRA E NAS ARTES.
Mas isto não é a razão de ser deste post. Quero, isso sim, referir-me à necessidade de uma "conta-satélite" para o sector que é recomendada no estudo, e com o que não se pode estar mais de acordo. E lembrei-me das recomendações nesse mesmo sentido que foram feitas no seminário realizado em Novembro de 2001, por iniciativa do ISEG e do então IPAE - Instituto Português das Artes do Espectáculo. Recordemos com destaques nossos:
Cultura e Artes no desenvolvimeto económico e social do País
JOÃO FERREIRA DO AMARAL
«(...)
Também estou em GREVE. Pelas razões comuns a todos os trabalhadores em funções públicas, mas tão importante como estas há sempre as razões específicas a cada sector e e mesmo a cada um de nós. Pensando bem, para além das razões gerais era capaz de ser mobilizador enumerar e divulgar as razões específicas a cada Ministério, Autarquia, ... .Com letra «gorda», e destinadas em especial ao esclarecimento dos cidadãos em geral. Do meu ponto de vista, há mesmo razões particulares que justificam greves e outras manifestações de indignação, mas de pouco vale se não forem entendidas pela sociedade e, nomeadamente, por quem neste momento está no desemprego. Deve ser difícil para os desempregados olharem para a «greve».
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