Mais um post do Madeira Luis que cada vez mais aproveita as suas redes de sempre para mergulhar nas redes de hoje que no conjunto dão outra cor ao nosso blogue. Nesta data acontecimentos a que se refere já acabaram mas fica a memória e a chamada de atenção para estarmos atentos aos autores e aos seus próximos trabalhos. Dito isto, aqui vai o texto que o Madeira me enviou que exige um outro tipo de reflexão mas, do meu ponto de vista, tão importante como a que nos leva a participar em manifestações ou à assinatura da tomada de posição 100+ 1, por exemplo. Já não nos podemos dar ao luxo de optar entre isto ou aquilo. Temos de fazer isto e aquilo neste tempo exigente que estamos a viver.
Lugar, tempo, liderança e dinâmica nas culturas
Como dizia na minha anterior colaboração neste blog, o início de Maio, já em Lisboa,
prolongou o “estado de graça “ que atingi em Aveiro, em finais do mês anterior.
A verdade è que, esse estado de espírito, só me ocorreu no final do dia em que encontrei, em duas inaugurações sucessivas de exposições, na Capital, cinco jovens com quem trabalhei em vários momentos e lugares e não via há largo tempo, embora, tal coincidência, tivesse já a ver com um facto inesperado ocorrido nos últimos dias de Abril, em Aveiro.
Convidado para jantar em casa de um Professor da U.A., com quem tenho convivido, esporadicamente, à volta de projectos culturais, fui ali encontrar um jovem casal em que ele era pintor. A certa altura mostrou-nos uma gravura de sua autoria que me pareceu aparentada com uma fase da obra do António Palolo, opinião que lhe manifestei. Confirmada a sua relação com aquele autor, encetámos uma daquelas conversas de que se diz que são como as cerejas e em que foram desfilando as personagens de referência da minha vivência cultural e, estranhamente, também da dele, apesar de uma diferença de cerca de 30 anos nas nossas idades. A estupefacção do nosso anfitrião era total, tanto mais que, para ele, essas referências eram quase todas desconhecidas.
Para mim tais coincidências tornaram-se mais óbvias quando se foram identificando lugares de irradiação cultural nos inícios dos anos 80: a S.E.C., a Gulbenkian, a Gravura, em Lisboa; o Centro Cultural e algumas tertúlias em Évora, onde o meu interlocutor vivia, e depois agentes culturais viajando regularmente entre estes lugares – Mário Barradas, José Ernesto de Sousa, António Palolo.
Passando de uma circunstância particular para outra mais geral, mas previsível, teríamos um tipo de enquadramento que explicaria, em parte, a minha experiência e a de muitos outros, de uma vida cultural intergeracional e, por isso mesmo, mais perene.
Os meus cinco jovens amigos reencontrados, mais o recém conhecido, representam, todos eles, lugares, tempos, lideranças e dinâmicas culturais, em boa parte, comuns com as minhas, naquilo que poderíamos definir como o “caldo de cultura” dos anos 70 e 80.
Os caldos de cultura vão-se modificando por circunstâncias objectivas e subjectivas, mas muitos dos seus ingredientes permanecem em novos caldos, sobretudo se deixarem registos e se mostrarem ser úteis.
Como símbolo desta amálgama, a que chamamos Cultura, e que flui como memória, vivência e utopia, envio-te três imagens: a folha de sala da actual exposição do MUDE, cuja museologia é do Mariano Piçarra, o folheto da exposição de fotografia do Valter Vinagre, no Chapitô, com um texto do Orlando Garcia e um fanzine da Catarina Leitão, cuja bela exposição me levou a conhecer um espaço e um projecto novo (Carpe Diem Arte e Pesquisa) que, com os do “ Zé dos Bois” e os do Transboavista Arte Edifício, constituem uma tríade de vanguarda das artes visuais, em Lisboa.
Se o símbolo é mais fácil de entender pelos frequentadores da tertúlia da Versalhes, os outros leitores deste texto não ficarão defraudados com a simples e atenta visita às três exposições.
NOTA:
No meu texto anterior a este, referi-me a três filmes apresentados no evento Silêncio. A falha de uma palavra na referência ao segundo filme torna o comentário incompreensível.
O que queria dizer é que “ (…) os trilhos difíceis, ou melhor complexos (…)
As minhas desculpas
E faz sentido que se aqui dê conta do texto do Valter Vinagre e do Orlando Garcia (olá Orlando, escreve coisas aqui para o blogue e aparece nos Primeiros Domingos de forma regular) da Folha de Sala que nos foi enviado já todo preparadinho:
Valter Vinagre
Um muro, um portão, a campainha...
- Bom dia!
Três passos e espanto! Estou dentro de um Circo. Sim! Num Circo, numa daquelas tendas que alegrava a minha infância em domingos especiais: Luz, fantasia, animais selvagens, palhaços, malabaristas, trapezistas, ilusionistas, contorcionistas, rebuçados, etc.
Aqui, nesta tenda, não há animais selvagens domesticados ou para domesticar. Aqui, ensina-se toda a arte que tantos domingos especiais trouxeram à minha infância. Este lugar é a Escola Nacional de Circo no Rio de Janeiro onde fotografei durante uma semana corria o ano de 2002.
Paixão.
Valter Vinagre
Lisboa, 22 de Março de 2010
Orlando Garcia
Sobre “Paixão” de Valter Vinagre
Enigma e ensaio de decifração – Orlando Garcia
O título que o Valter dá a esta exposição (esta série de 18 fotografias) intriga-me. Porquê Paixão ? Num seu depoimento, ele dá-nos pistas: infância, alegria, luz, fantasia. O mundo transformado em domingo feliz. E subliminarmente está lá o Brasil, esse mirambolante umbigo tropical. E tudo se passa num universo reservado e concentrado, com passe de acesso, numa viagem espantada de um muro a uma tenda de circo. Deve ser nestes terrenos que devo procurar as conexões.
Centro-me nas fotografias: limpas, directas, enxutas, a preto e branco. Artesanais por coerência com a acção. Todos em exercício, inclusive o fotógrafo. Movimentos em todas as direcções. Do fabril ao circense: adivinha-se ali uma reciclagem. O circo a aprender, a fabricar, a laborar, a ensinar ...
Escolho a minha fotografia matricial da série. Opto pela fotografia dos graffitis e do arame, fixação do efémero, padrão e registo. Representação e dispositivo. Pano de fundo dos artistas operários que povoam todas as outras fotografias. Oscilei entre essa e a que apelido de “casulo”: o artista na sua solidão, suspenso nos panos e na luz, fixado na sua, e nossa, cosmogenia. Fralda e útero. O centro do mundo. O mundo em suspenso. Julgo perceber que se trata da escolha (simbólica) do próprio fotógrafo, embalado na dedução da sua inclusão em “Húmus”, essa outra sua série reflexiva, metafórica e antropológica. Neste conjunto, estas duas fotografias constituíram-se nos meus pólos de equilíbrio, referenciação e especulação, aquelas imagens em que me é mais intenso o jogo entre valor estético e valor social.
As restantes 16 percepciono-as como bloco de notas visual, de observação e testemunho. Disparos rápidos, experienciais, a captar o momento, a cristalizar o movimento, numa interactividade performativa. Está lá a empatia e todas estão carregadas de humanidade. Estão lá as pessoas nas suas duplicidades de anjos, acrobatas e artistas. Vislumbramos-lhes as felicidades compenetradas. Trabalham, treinam, exercitam, controlam, corrigem, insistem, insistem ...
Preciso de as percorrer, da primeira à ultima e, outra vez, da última para a primeira. E mais uma vez e outra ainda. O Valter obriga-me a um jogo de coerência enquanto receptor deste encadeamento de imagens para-normais e geradoras de energia. Depois preciso de ir reparar nas pessoas e lá vou de fotografia em fotografia, olhar para as caras, para as figuras, para as posturas. Ponho-me a imaginar e a deduzir. O que mais me impressiona é o que se adivinha como denominador-comum: concentração e deliberação. O chamado “empowerment” no seu expoente máximo. E lá vou percorrer outra vez todas porque quero apanhar a ambiência. O Valter está a proporcionar-nos uma incursão num universo que nos estimula a questionar a vida de uma forma poética. Por isso deambulo nas minhas duas referenciais: o arame e o casulo.
Mas, finalmente, porquê “Paixão” ? Por ser intensa, perigosa, efémera ? Não deve ser pelo lado possessivo, obsessivo, compulsivo, tempestuoso. É que esse é o lado transtornado. Mas talvez possa ser pelo exacerbamento e exclusividade. O factor institivo também pode estar aqui subjacente. Sim, o mais provável é que tenha a ver com movimento e duplicidade. Já sei: é por causa do desencadeamento de admiração e espanto. É por causa da emoção do tudo pode acontecer e das disposições que isso desencadeia.
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