O Esau Dinis, do Grupo Versalhes, produziu este trabalho:
Um olhar pessoal sobre Animação e
Formação de Animadores no período de 1950-2010
- à procura de convergências -
que pode ver aqui, e onde pode ler coisas como estas:
«(...)
Anos 50 - Ambiente formativo favorável à ‘animação’
A respeito da formação dos activistas, líderes, ou futuros líderes, além de um saber profissional reconhecido, havia a partilha em grupo, a preocupação com os modos e técnicas de comunicar e de persuadir, a aquisição de uma cultura clássica e humanista, o estudo do meio e particular atenção aos interlocutores. Estar a par dos programas de rádio mais selectos, como o teatro radiofónico, da literatura estrangeira escapada à censura, da página literária do Diário de Notícias ou do suplemento cultural da União, que teve nome ‘Pensamento’, poderia contribuir para criar um estatuto quase carismático, que seria arredondado com a frequência de pessoas ilustres ou ‘sábias’, quase sempre idosas, a publicação de artigo em jornal local, a demonstração da capacidade de falar em público, com anedota a propósito, revelando espírito arguto, sem esquecer a formação moral com preocupações humanitárias.
Poderia traduzir-se numa formação centrada nas pessoas, com preocupações literárias e vagamente sociais, sem esquecer aquilo que chamávamos a nossa açorianidade. Por vezes, a formação chegou por via de irmos acampar noutra ilha, junto de populações com tradições particulares que descobríamos com surpresa. Noutras, tomávamos consciência de saberes e vivências diferentes, a
partir do contacto com novo professor chegado de Roma, e que nos trazia informação da Europa da guerra e do pós-guerra, ou com o sociólogo vindo de Lovaina com saberes laicos, com o cientista que nos falava de vulcões, com VitorinoNemésio que conferenciava sobre cultura, enquanto ‘o que fica depois de esquecer tudo’, com Carlos Walenstein que recitava a Tabacaria e outros poemas de Álvaro de Campos, ou, ainda, com aquele missionário, tisnado dos ares de Timor, que desvendava a estranheza de um mundo distante tornado apetecido.
(...)
Anos 70 e 80 – Da fase explosiva da animação à sua profissionalização
Tomando a sociedade como um todo, a década de 70 representa uma fase explosiva da animação, na perspectiva abrangente da acção social e cultural, embora em relação a Portugal, tenhamos de distinguir o antes e o depois do 25 de Abril de 1974. Na primeira metade da década, registam-se progressos relativamente ao final dos anos 60, sem que aconteça alteração radical de funcionamento. Mas depois do 25 de Abril de 74, assistimos a um ‘tsunami’ social e cultural de grande amplitude, não obstante não ter obtido resultados estruturais que ultrapassassem os níveis mais à superfície. Sobretudo após o 25 de Abril de 1974, há pessoas e grupos que se reclamam da animação e se identificam como animadores, mesmo que, na maioria das situações, no plano das actividades, o que sobreleva é o recurso a metodologias e técnicas próprias da animação. Em geral, trata-se de trabalho não profissional, mantendo carácter amadorístico e de voluntariado. Os próprios reconhecem-se como militantes ou activistas associativos e culturais. Mas já existem núcleos de profissionais animadores, para quem a formação passa a ser importante como reforço de legitimidade e como suporte do desempenho profissional. Na década de 80, consolidam-se as actividades de animação, com progressiva profissionalização de animadores, aparecendo experiências consistentes de formação de animadores, em sectores mais especializados.
(...)»
Apetece-me notar que é sobre o passado, mas obrigatório no presente e no futuro. Claro, para quem se interessa por estas coisas de forma alicerçada.
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